sábado, 20 de fevereiro de 2010

Metade de mim mais a outra metade...

"Metade de mim
é emoção
e deseja teu corpo ao alcance da minha mão.
A outra metade
é razão
e imune te afasta, ignora, finge ilusão.

Metade de mim
não me deixa do teu beijo esquecer.
A outra metade
impassível, não me permite sofrer.

Metade de mim
lembra o calor ardente do teu abraço.
A outra metade
insensível, nega a existência do laço.

Metade de mim
quer novamente ouvir tua voz.
A outra metade
implacável, exige que esqueça de nós.

Metade de mim
é sonho acordado de desejo e lembrança.
A outra metade
inabalável lucidez que cessa a esperança.

Metade de mim
subjuga meu corpo na ansiedade do amor.
A outra metade
impiedosa rebela-se, aumentando minha dor.

Metade de mim
emoção
grita teu nome ao vento
incontida, desesperada de paixão.
A outra
indiferente se cala, sem nenhuma razão..."
Rosemari Ruch



É neste momento que há mais dor, quando esta
dúvida insaciável e atormentadora nos invade…
Chegamos a tantas perguntas que deveriam ser
inquestionáveis, ou esquecidas, ou apenas com
respostas claras e concretas…

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Apanhar o ultimo comboio no derradeiro momento...



"(...)Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, (...).Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer."



Margarida Rebelo Pinto